segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A GAFE


O jovem casal, saindo da aula, decidia o que ia fazer nesse fim de tarde. Na esquina, um pivetinho descalço cantarolava:
- Olha a melancia que é um mel! Olha a laranja docinha do céu!
- Aí meu amor, você não falou que tava com fome? Em vez de sanduíche compra uma fatia de melancia.
Ele fez careta e comentou:
- Melancia é o quarto estado físico da água.
Ela riu e ele emendou:
- Chuchu é o quinto.
Ela gargalhou.
- Você inventou isso agora?
Disfarçou:
- Que tal uma laranja docinha do céu?
Ela fez que sim com a cabeça.
- Sabe que antigamente, na China, oferecer laranjas a uma moça era um pedido de casamento?
Casamento? Ele se perguntou, que conversa era aquela, com duas semanas de namoro? Eles comeram cada um uma metade da laranja e ele avisou que ainda tinha fome. Ela lembrou:
- Tem um trailer ali na frente, vamos pedir um xis – tudo.
O dono do trailer aumentou o som do rádio, que tocava uma música agitada. A namorada começou a balançar no ritmo da música.
- Isso é discoteca, anos 70. Meu pai tem esse disco. Vamos... Vamos dançar?
- Dançar discoteca? No meio da rua? Está maluca? Se ainda fosse uma musiquinha lenta.
-Não seja por isso – o rapaz se intrometeu – Eu troco de estação.
Girou o botão e caiu num tango argentino.
- Vamos dançar tango? – o namorado deu uma risada alta e olhou em volta, para saber quantas pessoas veriam o vexame. Não viu nada a não serem umas luzes fracas dentro de um casebre. Pareciam velas.
- Deve ser um jantar a luz de velas.
Puxou a namorada pelo braço, pra dançar tango. Ela veio desenvolta, ele nem sonhava com aquilo rodopiou, encurvou-se, gingou, um espetáculo. Sussurrou no ouvido dela:
- E eu com medo de dar vexame...
Acompanhou como podia, queria dançar a noite toda. Quando reparou no casebre, viu várias pessoas na janela. A namorada acenou, sorriu, mandou beijos, caprichou.
- ETA vida besta – cochichou.
Fez um gesto chamando-as para dançar. Só havia uma coisa estranha ali, as pessoas não sorriam, mas os apontavam com desaprovação. E estavam todos de preto.
E então de repente ela parou a dança e comentou:
- Isso não é jantar a luz de velas, é um velório...

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