segunda-feira, 31 de agosto de 2009

QUEM VAI ESCREVER MINHA AUTOBIOGRAFIA?


Sábado de manhã,toca o telefone e um tal de Roberto me fez a proposta inusitada:
-Leo Cunha?Eu quero que você escreva a minha autobiografia.
Minha primeira reação é uma risada.Será que tinha escutado bem?

-Desculpa, o que foi que você disse?

-É isso mesmo,Leo Cunha.Eu quero convidar você para escrever minha autobiografia.

A voz era tímida,mas decidida.Parecia ter se preparado preparado muito para a ocasião.Depois da surpresa inicial , me esforcei para não ser indelicado

-Escute,meu amigo: se eu escrever,não vai ser autobiografia.

-Perfeito,perfeito.A bem da verdade,eu poderia escrevê-la eu mesmo,mas vou direto ao cerne da questão:eu não possuo nenhum contato, a nível de editoras, e sei que isso não lhe falta.

Outro dia assisti a uma entrevista sua na televisão,vi que você tem livros em várias editoras.Isso posto...

Queria passar boa impressão.Um dicionário ao lado do telefone,talvez.

depois do Leo Cunha tentar explicar ele,Roberto,mudou de tatica.

-Agora eu intendi a sua preocupação.Você esta pensando que eu vou te processar por plagio depois que o livro for publicado.

Aí ja era demais para minha paciencia!Bati o telefone e avisei pra todo mundo que se ligasem eu não estava em casa.

Mas Leo Cunha depois de alguns dias sentiu pena do tal Roberto e que ele crie coragem para encarar sua autoiografa.

UM PAÍS SE FAZ COM SAPATOS E LIVROS


Outro dia, em uma palestra, Pedro Bandeiras, mencionou uma situação: uma madame foi à escola com seu filho para reclamar do preço dos livros, Pedro viu que o menino estava calçado com tênis importado e disse: “Ô minha senhora, não é o livro que é caro. É a senhora que prefere investir nos pés do que na cabeça dos seus filhos”.
O auditório aplaudiu de pé. A tirada do Pedro me lembrou de um caso divertido da minha infância: estávamos em casa quando a mãe de um colega chegou, aos prantos, e tocou a campainha, ela explicou: “meus serviçais não param de brigar!”. A casa dela ocupava quase um quarteirão e tinha uns oito serviçais. Mas ela disse que não era aquele o motivo da visita, ela queria saber se minha irmã tinha terminado de ler o livro, para emprestar ao filho dela!
Mas apesar disso, minha mãe acabou emprestando o livro.

PEGADINHA


- Pára de trocar de canal filha. O que te deu hoje?
- Sei lá, pai, o controle remoto disparou!
- Viu... Inventa outra!
- Juro.
- Você está me escondendo alguma coisa.
- Que é isso...
- Está suando frio!
- Bobeira, pai.
- Tá coçando o queixo. Sempre que você coça o queixo...
- É só uma espi...
- Confessa logo, o que aconteceu?
- Olha, vai começar a Casa dos Artistas Trinta e Cinco!
- Me dá esse controle remoto aqui! Pronto. Agora fala a verdade.
- Pai, eu estou ótima, fora...
- Fora o quê?
- É que...
- Desembucha menina!
- Eu estou grávida, de sete semanas.
- Ai, acho que senti uma fincada no peito! Ainda bem que sua mãe não está mais aqui para ouvir isso.
- Que é isso, pai? Lembra que a mamãe sempre falava: “Antes ouvir isso do que ser surda!”.
- Aposto que ela preferia ser surda. Eu sabia que esse Paulinho não prestava. Desde o início ele só queria te levar pra cama!
- Não fala assim, pai. Eu só fui pra cama com ele depois de um ano de namoro.
- Um ano? Já é um consolo.
- Antes disso a gente só transava no carro...
- Que carro? No meu ou no dele?
- No dele, claro. O seu é muito apertado, aí a gente ia pro motel.
- Ah... Agora estou entendendo o boato lá no serviço de que me viram entrando no motel. Que vergonha vou morrer...
- Calma, pai, você tem que ajudar a escolher o nome.
- Que nome? Com sete semanas não dá pra saber se é menino ou menina.
- Não, o nome do médico que vai fazer o aborto.
- Ai, mais uma pontada! Estou enfartando. Primeiro a gravidez, depois o meu carro, o motel, agora o aborto.
- Perdão, papai. Eu acabei com a sua vida.
- Também não precisa chorar filha.
- E agora vou acabar com a minha vida também.
- Calma Júlia!
- E com a do bebê...
- Pera aí, muchacha! Pode parar com esse drama mexicano, que eu já saquei tudo!
- Sacou o quê?
- Isso é uma pegadinha. Só pode ser. Não tem gravidez nenhuma. Confessa! Onde as câmeras estão escondidas?
- Não tem câmera nenhuma, pai. Isso não é pegadinha.
- É sim!
- Quem dera se fosse...
- Pois eu tenho uma surpresa pra você, filha. Isso é mesmo uma pegadinha, do canal 5. Pode aparecer pessoal da TV. Pode aparecer, Paulinho.
- Paulinho? Você estava aí, escondido? Você e papai armaram isso?
- Pois é.
- Você não está grávida coisíssima nenhuma, filha. Os exames eram falsos. Os exames, o aborto, a demissão. Não é verdade, Paulinho?
- Bem senhor Walter... Na realidade...
- Na realidade o quê?
- Na realidade a pegadinha é outra, senhor Walter. É que o pessoal do canal 7 ofereceu mais grana, e aí o senhor sabe como é...
- Pois é, pai, a gente não sabia como dar a notícia da gravidez.
- Ai, ai, ai, cadê o telefone?
- Vai ligar pro hospital, pai?
- Que nada, vou ligar é pra televisão. Eu quero ser o próximo excluído deste reality show.

AI DE TI AÍDA( OU O GRITO DA INDEPENDÊNCIA)


Não sou ignorante no assunto, mas não sei diferenciar uma ópera de Verdi de uma de Rossini. Havia ganhado dois convites para assistir a montagem de Aída, no Estádio Independência. A ópera duraria quatro horas e minha mulher não estava disposta a ir.
Decidi perguntar a dois amigos. O primeiro, músico, disse que não iria nem amarrado e outro, que entende de ópera, disse que Aída era a obra-prima de Verdi. Acabei convencendo Vá a ir.
Estava frio e ventava, o estádio é aberto, Vá queria voltar e pegar um casaco, mas eu a convenci a ficar. A cada intervalo as pessoas poderiam sair para ir ao banheiro ou comer. Com o passar dos atos o frio aumentava e as cadeiras ficavam desconfortáveis. No último ato o maestro não apareceu, o público cochichava, tossia e muitos iam embora.
Passados vinte minutos um gaiato gritou:
- Vai sem maestro mesmo!!!
Pronto! O estádio veio abaixo, uns criticaram, outros aplaudiram, assoviaram, foi uma baderna.
Por sorte, o maestro apareceu e regeu o último ato. Agora não sei se vou nessa outra montagem de Aída, nem é tanto pela música, mas duvido que seja tão memorável quanto aquela fria de 1995.

A CARONA


O motorista do taxi estava nervoso. Achei melhor puxar conversa.
- Estou encrencado, amigo. Semana passada, dei carona a uma moça do bairro, agora minha mulher quer separar.
Fiquei intrigado. Ele me contou o início e o fim do filme, mas pressenti que ainda havia muito entre as duas pontas.
- Mas separar por uma simples carona? – perguntei.
- É que essa vizinha tem fama de safada. O pior é que eu não fiz nada com ela, só dei carona. A bandida foi lá em casa e contou pra minha mulher.
Ele parecia sincero. Talvez realmente não tivesse acontecido nada. Ou talvez ele estivesse tentando se convencer de que nada tivesse acontecido.
Nessa ora o celular dele tocou. Era a esposa, que ,pelo que ouvi, estava furibunda. Quando desligou enxugou uma lágrima, quis acreditar que ele estava arrependido. Dar carona é um ato curioso: pode ser um ato de ajuda ou pode envolver muito mais: proximidade, a um palmo da intimidade e favores, a um palmo da troca de favores. Oferecer carona já foi ceder à tentação.
Cheguei ao meu destino e paguei a corrida, desejei boa sorte e ele saiu devagar.

CINCO HIPÓTESES SOBRE A DEFICIÊNCIA ÁUREA


Na mesa do bar, cinco amigos se reúnem para falar do fiasco brasileiro nas olimpíadas de Sidney.
- Garçom desse uma douradinha.
- E cinco copos. Aliás, quatro, que eu vou refugar, feito o cavalo do Rodrigo Pessoa.
Acena seria mais charmosa se fosse assim, mas...
Para acabar com o glamour da cena, na verdade, eram cinco professores universitários, na cantina, comendo biscoito com refri e reuniram-se para discutir um seminário de metodologia científica.
Então cada um formulou uma hipótese sobre o fracasso:
1 – A hipótese psicológica – Os atletas revelaram uma total falta de amadurecimento e equilíbrio psicológico. Não confiaram em seu próprio potencial, ou confiaram em demasia, e não souberam lidar com os reveses.
2 – A hipótese midiológica – Fomos vítimas da imprensa. Nos últimos meses, a imprensa encheu a bola dos atletas que nós acreditamos que as chances de medalha eram muito maiores do que na realidade.
3 – A hipótese farmacológica – Hoje em dia só ganha quem estiver dopado até a medula. Tem remédio pra tudo e alguns driblam os exames de sangue e levam o ouro fácil pra casa.
4 – A hipótese conspiratória – O Brasil é o país do futuro, temos o pulmão do mundo, nosso povo é mais criativo, nossos bosques têm mais vida, etc. Portanto formou-se uma conspiração para nos tirar a medalha.
5 – A hipótese sociopolítica – O fiasco é um reflexo da estrutura social e política do país, os EUA, o Japão e os países europeus investem em esportes, as escolas têm quadras e os alunos dedicados têm regalias.
- Mas e o cavalo? – perguntei – Por que refugou afinal?
- Ele simboliza um povo que está de quatro. Lembra da peça Os saltimbancos? “Era uma vez (e é ainda) certo país (e é ainda) onde os animais eram tratados como bestas (são ainda, são ainda)... Mas chega um dia (chega um dia) que o bicho chia (bicho chia), bota pra quebrar e eu quero ver quem paga o pato, pois vai ser um saco de gatos.”
E nesse momento tocou a campainha, estava na hora da aula de verdade.

A GAFE


O jovem casal, saindo da aula, decidia o que ia fazer nesse fim de tarde. Na esquina, um pivetinho descalço cantarolava:
- Olha a melancia que é um mel! Olha a laranja docinha do céu!
- Aí meu amor, você não falou que tava com fome? Em vez de sanduíche compra uma fatia de melancia.
Ele fez careta e comentou:
- Melancia é o quarto estado físico da água.
Ela riu e ele emendou:
- Chuchu é o quinto.
Ela gargalhou.
- Você inventou isso agora?
Disfarçou:
- Que tal uma laranja docinha do céu?
Ela fez que sim com a cabeça.
- Sabe que antigamente, na China, oferecer laranjas a uma moça era um pedido de casamento?
Casamento? Ele se perguntou, que conversa era aquela, com duas semanas de namoro? Eles comeram cada um uma metade da laranja e ele avisou que ainda tinha fome. Ela lembrou:
- Tem um trailer ali na frente, vamos pedir um xis – tudo.
O dono do trailer aumentou o som do rádio, que tocava uma música agitada. A namorada começou a balançar no ritmo da música.
- Isso é discoteca, anos 70. Meu pai tem esse disco. Vamos... Vamos dançar?
- Dançar discoteca? No meio da rua? Está maluca? Se ainda fosse uma musiquinha lenta.
-Não seja por isso – o rapaz se intrometeu – Eu troco de estação.
Girou o botão e caiu num tango argentino.
- Vamos dançar tango? – o namorado deu uma risada alta e olhou em volta, para saber quantas pessoas veriam o vexame. Não viu nada a não serem umas luzes fracas dentro de um casebre. Pareciam velas.
- Deve ser um jantar a luz de velas.
Puxou a namorada pelo braço, pra dançar tango. Ela veio desenvolta, ele nem sonhava com aquilo rodopiou, encurvou-se, gingou, um espetáculo. Sussurrou no ouvido dela:
- E eu com medo de dar vexame...
Acompanhou como podia, queria dançar a noite toda. Quando reparou no casebre, viu várias pessoas na janela. A namorada acenou, sorriu, mandou beijos, caprichou.
- ETA vida besta – cochichou.
Fez um gesto chamando-as para dançar. Só havia uma coisa estranha ali, as pessoas não sorriam, mas os apontavam com desaprovação. E estavam todos de preto.
E então de repente ela parou a dança e comentou:
- Isso não é jantar a luz de velas, é um velório...

A MATEMÁTICA E OS MENDIGOS


Para abandonar o vicio ,dona Marta fez de tudo. Tomou até aulas particulares de matemática e estatística.

Desta vez precisava usar argumentos racionais. De nada adiantaria combater o vício com apelos emocionais
-sabe o que é,meu bem?Eu estive estudando e pesquisando nos últimos meses.

-Pesquisando?-ele fez a careta mais estranha dos trinta anos de casamento.

-É. Você sabia que a chance de alguém ganhar na Mega-sena é de cerca de uma em cinquenta milhões de apostas?

Ele deu de ombros.

-querida, você está esquecendo uma coisa: toda semana eu jogo os mesmos números 2, 5, 16, 25, 33 e 37.Mais dia,menos dis,esses números vão ser sorteados.
-Você esta redondamente enganado.Segundo a matemática a chance de saírem exatamente esses números é mínima,quase impossível
-Por quê?Por que logo os meus números?
Ele estava começando a ficar com medo da conversa.Não sabia conversar com a esposa naqueles termos.Será que ia terminar em pedido de divórcio?
-Seja direta.O que você está querendo me dizer?
-Imagine uma coisa: você jogaria nos números 1, 2, 3, 4, 5 e 6?
-Não.Algum dia vai sair 1, 2, 3, 4, 5 e 6 em sequência?
-Pois é isso que eu estou querendo te mostrar . O Vicente me explicou isso nos mínimos detalhes.
-Que Vicente é esse? Você quer o divorcio?
-Calma o Vicente é meu professor de matemática que contratei para ajudar.Fica tranqüilo, ele tem 21 anos.
-21? pirou!
-Ô meu bem deixa disso.Eu o escolhi ele porque me garantiram q ele sabe tudo sobre estatística.
-Parabéns para ele! Pode ligar para esse cara e dizer que eu vou jogar nos mesmos números.
Ela ligou.
Dona Marta pediu para ele explicar para o marido tudo o que havia explicado a ela.
Ele pegou o telefone bravo e o desligou vermelho de vergonha e disse para a esposa:
-Ele te falou da teoria dos mendigos?
-Mendigos? Que história é essa?
-Segundo Vicente, seria melhor pegar esse dinheiro da Mega-Sena ;e entregar para os mendigos na rua.A chance de um deles ser um milionário disfarçado e me dar um milhão de reais é maior do que a chance de saírem os meus números.Interessante não?

sábado, 29 de agosto de 2009

Duas Vacas Frigídas, Digo, Frívolas


Na decada de 80 a turma da Casseta popular costumava vender, na revista, umas camisetas com frases hilárias do tipo "Liberdade é passar a mao na bunda do guarda", "Vá no teatro... mas não me chame" ente outras.

A revista Rolling Stone é outra que trazia frases para que a gente pudesse escolher para imprimir nas camisetas. Mas o que me fez lembrar-se desse tema de tamanha relevância antropológica foi uma camiseta que eu vi na rua. O texto era assim.

*Socialismo:
Você tem 2 vacas.O governo toma uma e da pro seu vizinho.


*Comunismo:Você tem 2 vacas.O governo toma as duas e te da o leite.Facinismo:Você tem 2 vacas.O governo toma as duas e te vende o leite.


*Nazismo:Você tem 2 vacas.O governo toma as duas e te da um tiro na cabeça


*Capitalismo:Você tem 2 vacas.Vende as duas e aplica o dinheiro.


A frase do capitalismo seria muito mais verdade se fosse assim:


*Capitalismo:Você não tem 2 vacas.Quem tem é seu patrão.E, se bobear, ele vende as duas vacas,aplica o dinheiro e você vai pro olho da rua

sábado, 22 de agosto de 2009

LINDA DE MORRER


O pai teve a idéia de abrir uma funerária, ele falou que tem muita gente morrendo é negócio do futuro, a mãe fez uma piadinha com o assunto e o filho ja disse para parar com a brincadeira, o rapaz havia acabado um curso de ensino e só conseguia raciocinar em termos mercadológicos. O pai estava tentando falar a palavra empreendedorismo e o filho ja o corrigia.

O pai queria colocar um nome para a funerária, mas o filho achava horrível os nomes que o pai inventava. A mãe imendou na conversar inventando outros nomes absurdos, o filho olhou pro chão besta, e disse que nem Freud(fanático por humor negro) poderia explicar os dois.

O que mais irritou o filho foi quando lembraram de uma certa frase de um cemitério: "Se você não sabe quando, saiba pelo menos onde" e o pai se recordou-se dizendo: ...."Na época eu achava aquele slogan muito bom. É claro que eu ainda não tinha conhecimentos de......Perdedorismo...Predadorismo.. o filho saiu batendo os pés e pensou consigo que seu pai nunca ia dar conta daquelas palavras lindas de morrer.

COMUNICADO AOS CONDÔMINIOS


Este conto fala sobre um comunicado aos moradores de um edificio, que seria instalado um "detector de vazamento de idéias cretinas", com o objetivo de preservar a tranquilidade de todos. Ao detectar qualquer tipo de idéia imbecil, ignóbil ou obtusa, o detector soltará um apito longo e agudo, a fim de garantir a eficiência da medida. Para os carecas, estamos providenciando detectores intra- auriculares.
Caso haja interesse, a Administrição estará à inteira disposição dos senhores para informa-los como contactar a Empresa responsável pela instalação.
Se o sr. morador já tiver instalado o detector ao ler este comunicado, por favor desconsidere o apito longo e agudo que está ouvindo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

CLEÓPATRA NÃO MORA MAIS NA RUA DOS CATAVENTOS


Quem lê Mario Quintana a esta altura do campeonato?ou melhor, quem lê poesia?Onde se encontra tempo pra poesia? E por quê?
Cleópatra não lê mais poesia. Pelo menosé o que eu posso deduzir lendo sua assinatura nesse livro encardido, perdido num sebo.
Pra ser sincero, não sei se é o livro que está perdido neste sebo, ou se o perdido sou eu.Mas não consigo disfarçar a felicidade quando leio, na última prateleirado canto, o título Quintanares. São 240 páginas amareladas, capa dura marrom, começando a rasgar. Autor e título gravados em letra dourada, no dorso.
depois de fuçar meia hora nas estantes da saleta, eu já estava pronto para sair de mãos abanando. Então começo a folhear o livro. A vendedora confirma o preço : oito reais.
Entre satisfeito e indignado, passo a página e encontro a tal assinatura de Cleópatra Chagas, antiga dona do livro. Por que você desistiu do livro, Cleópatra?
Fico imaginando Cleóprata uma moça muito ocupada, que trabalha de 9 ás 6 e depois pega ônibus. O tempo dá na conta pra acnompanhar a novela, ou, de vez em quando, um cineminha.
Mas não. Cleópatra Chagas não é um nome que combina com essa mocinha. Alguém já viu uma Cleópatra jovial andando por aí?Não, essa aqui deve estar beirando os 70. Reparando bem, acho que a letra dela se parece um pouco com a da minha avó.
E, enquanto vou pagando o livro, me vem à mente a hipótese mais óbvia, e a única que eu ainda não tinha à imaginado. Cleópatra Chagas não mora mais aqui. Está morta.É isso mesmo: afinal, sua assinatura é de 1982, mais de vinte anos já se foram, seus filhos não sabiam o que fazer com aquele livro, chegaram a pensar em enterrá-lo com ela, mas acabaram seguindo a sugestão da neta.

O autor critica que a obra de Mario Quintana esteja a venda num sebo por menos de dez reais, ou seja, a obra deveria ser mais valorizada.

EMOÇÃO DO PRIMEIRO ASSALTO



Aconteceu outro dia em um restaurante de comida mineira. Eu ja estava lá pelo meio do almoço, naquele segundo prato.
Eu estava, em meio aqueles pensamentos glutões e fúteis, quando os dois elementos invadiram o restaurante. Estavam escondidos por traz de uma maquiagem pesada, vozes fortes e decididas, anunciaram um assalto. Em poucos minutos estava tudo terminado.
Olhei para minha filinha e percebi que ela não tinha se dado conta do que acabava de acontecer. Na mesa ao lado, um garoto de uns cinco anos arregalaram os olhos pro seu pai que esse tinha sido o seu primeiro assalto e seu pai balançou a cabeça compreenssivo.
A emoção do primeiro assalto era evidente nos olhos do garoto. A reação mais óbvia do pai era explicar tudo por menino, que aquilo não era um assalto de verdade e apenas uma espécie de assalto cultural. Mas o autor torceu caldo pra que o pai não contasse e estragasse aquele momento, e o autor pra se defender em deixar o garoto iludido, diz que o mundo de hoje, isso é o melhor a fazer.

ENGOLINDO SAPOS



Filho é sinômino de perguntas esquisitas e inesperadas o que eu podia responder quando minha filhinha de 2 anos, quis saber se o sapo que não lava o pé é aquele mesmo que não tem rabinho nem orelha?
Demorei perceber de onde tinha surgido aquela dúvida, ela explicou que ra das duas musicas. O sapo da 1° música não lava o pé, não lava por que não quer. O sapo da 2° música O sapo que mora na lagoa, não tem, não tem rabinho nem orelha.
Ali que estava sua dúvida anfíbia: Os 2 sapos são um só?Minha única saída a verdadeira história por trás daquela saparia musical.
Analisei, temendo pelo almoço pelos dentes pelas sandálias, escolinha e tal, declarei que o sapo era o mesmo.ela retrucou imediatamente: "conta a história do sapo papai". Pronto, eu estava lascado.
O jeito era inventar ali mesmo uma história praquele sapo.Sabe o que é filha? O sapo olhava o reflexo na água e via um sapo, mas as pessoas chegavam pra ele e diziam que ele não era um sapo, era um príncipe enfeitiçado. Juravam que um dia chegaria uma princesa, tascaria um baita beijo em sua boca e pronto: ele seria transformado em prícipe.
E ali estava o sapo-cururu, na beira do rio. (Já que ra pra misturar as músicas, tratei de enfiar mais uma na história.)Quando o sapo cantava, Sofia, é porque tinha frio. Mas era um frio no estômago, um medo de ser príncipe e não sapo.E ele gostava muito de ser sapo. Quando o sapo cantava, Sofia, é porque tinha frio na alma.
Comecei a ficar animado com o desenrolar da história, mas a Sofia não estava engolindo aquele sapo. Muito educada para dizer que a história não prestava, ela simplesmente avisou que estava com fome e ia almoçar. E eu fiquei ali, parado, olhos arregalados, feito um sapo jururu.

FAZENDO FITA



Bom lá estava eu, em outro dia monótono e atrasado, pois é estava atrasado para a faculdade, foi ai quando meu pai falou para levar o lixo, não pude recusar, pois ainda tinha de passar devolver um filme na locadora, quando peguei o lixo pensei bobagem. "Já imaginou se eu jogo no lixo o saquinho com a fita de vídeo e devolvo na locadora o saco do supermercado?"
Chegando em frente a locadora percebi que estava sem o bendito filme, procurei em baixo de banco, em todo o carro, e percebi a tragédia. Minha profecia tinha se cumprido: eu tinha jogado a droga da sacolinha no lixo, junto com as duas do supermercado!liguei pro meu desesperado
Infelizmente o filme ja deveria estar em um estado não muito bom, tentei explicar o que tinha acontecido com a fita ( dando uma desculpa, é claro )falei que meu carro foi roubado junto com a fita, eles ainda não acreditaram e exigiram uma nova fita, indo nas outras locadoras a busca de um novo filme e contando a mesma desculpa, resolvi falar a verdade, a moça até riu da minha cara, mas me vendeu por um preço baixo.

AS CRUÉIS MITOCÔNDRIAS



"Tem coisa que a gente aprende na escola e não entende bem pra que aquilo vai servir, se é que vai servir um dia".Na minha época de sétima série, eu tinha um colega que não admitia aprender o nome dos trocentos paises da Africa.
Eu, pelo contrário, sempre adotei geografia e sabia de cor todo os países e capitais. O que nunca me entroui na cabeça foi a importância de aprender o nome de tantos protozoários, bactérias, fungos, vírus e outros causadores de doenças.Na época eu estava curtindo meu primeiro amor platônico e só queria aprender a explicação pro meu coração acelerado e minha dor-de-cotovelo.
Na época eu ficava vendo umas bandas de havy metal com os nomes mais macabros do mundo: Overdose, Sepultura, Gangrena,às vezes em inglês, tipo Witch Hammer, tudo quando é podreira. E pensava: já que é pra pôr nome de doença, aleijão e morte, não custa nada acrescentar um pouquinho de bom humor. Acreditoque a minha Giardia Lamblia tinha tinha tudo pra virar uma febre.
Quando a gente estava descendo pra ir embora, notamos um garotinho de uns oito anos olhando praquela escada e morrendo de subir. Nessa hora um dos meus amigos, o Mauro, resolveu sacanear o menino:
- Se eu fosse você eu não subia não.
- Por quê? - o menino até tremia.
- Lá em cima tá cheio de mitocôndria!
Coitado do menino. Arregalou os olhos desse tamanho, engoliu seco, não sabia o que fazer.
- E isso morde? - ele ainda teve voz pra perguntar.
E o Mauro - até hoje não sei como ele conseguiu lembrar dessa aula tantos anos depois - teve a crueldade de responder:
- Morder não morde não. Mas sintetiza ATP.
Pronto o menino saiu em disparada pela praça de Ouro Preto, berrando "mamãe, mamãe!".
Só muitos anos depois, na aula de ciências, o pobre do menino deve ter percebido toda a sacanagem daquele dia.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O MANUAL DE DESCULPAS ESFARRAPADAS


As 'desculpas esfarrapadas' são aquelas eternas razões para não se entregar o dever de casa para o professor. São notáveis, famosas e impressionantemente constantes. Todos nós já usamos uma ou outra em nossas vidas. Alguns usaram todas elas. Léo Cunha distingue sete desculpas principais:
A CULPA É DE SÃO PEDRO: da chuva que encharcou o trabalho ou o vento que carregou as folhas; A CULPA É DOS OUTROS: clássica. "a culpa foi do Joãozinho que não entregou a parte dele a tempo de poder fazer a minha"; A CULPA É DO COMPUTADOR: "o professor que não ouviu essa frase, vai ouvir logo"; A CULPA É DO EXCESSO DE TRABALHO: “não é por nada não, fessor, mas o senhor acha que só tem uma matéria? Tava assim de trabalho pra fazer, e os outros eram mais urgentes.”; EU NÃO SABIA QUE ERA PRA HOJE: "uai, ninguém me avisou!" EU NÃO ENTENDI DIREITO O QUE ERA PRA FAZER: "será que dava para explicar de novo?" MINHA AVÓ MORREU: ou todas as variantes possíveis. Pai, mãe e irmãos são um pouco mais complicados, mas tios, primos e animais domésticos são sacrificados sem dó. E em casos extremos, ainda há o SUPERCOLIRIO: usado pelos oculistas e que deixa a vista embaçada durante uma semana! Mas este ainda não é o apogeu da crônica. É quando Léo Cunha compara estas desculpas com as declarações oficiais do então Presidente da Republica em 2001 tentando 'explicar' a crise da energia elétrica. Arrasador!

BIOGRAFIA DO AUTOR

Léo Cunha, escritor brasileiro, nascido em Bocaiúva (MG), em 1966, e mora desde pequeno em Belo Horizonte. Mestre em Ciência da Informação pela UFMG, trabalha como professor universitário, jornalista e tradutor, mas sua maior paixão é escrever para crianças e jovens. Entre seus trinta e poucos livros, a maioria tem a narrativa recheada de humor, como Pela estrada afora, O menino que não mascava chiclê, Na marca do pênalti, Poemas lambuzados e O macarrão espantado.

Léo já recebeu alguns dos principais prêmios da literatura infantil e juvenil brasileira, como o João de Barro, Nestlé, Jabuti, FNLIJ, entre outros.

O livro Manual de desculpas esfarrapadas é seu segundo livro de crônicas. Ao contrário do primeiro, Nas páginas do tempo (1997), este livro reúne apenas histórias divertidas, vividas ou imaginadas pelo autor.