sexta-feira, 14 de agosto de 2009

CLEÓPATRA NÃO MORA MAIS NA RUA DOS CATAVENTOS


Quem lê Mario Quintana a esta altura do campeonato?ou melhor, quem lê poesia?Onde se encontra tempo pra poesia? E por quê?
Cleópatra não lê mais poesia. Pelo menosé o que eu posso deduzir lendo sua assinatura nesse livro encardido, perdido num sebo.
Pra ser sincero, não sei se é o livro que está perdido neste sebo, ou se o perdido sou eu.Mas não consigo disfarçar a felicidade quando leio, na última prateleirado canto, o título Quintanares. São 240 páginas amareladas, capa dura marrom, começando a rasgar. Autor e título gravados em letra dourada, no dorso.
depois de fuçar meia hora nas estantes da saleta, eu já estava pronto para sair de mãos abanando. Então começo a folhear o livro. A vendedora confirma o preço : oito reais.
Entre satisfeito e indignado, passo a página e encontro a tal assinatura de Cleópatra Chagas, antiga dona do livro. Por que você desistiu do livro, Cleópatra?
Fico imaginando Cleóprata uma moça muito ocupada, que trabalha de 9 ás 6 e depois pega ônibus. O tempo dá na conta pra acnompanhar a novela, ou, de vez em quando, um cineminha.
Mas não. Cleópatra Chagas não é um nome que combina com essa mocinha. Alguém já viu uma Cleópatra jovial andando por aí?Não, essa aqui deve estar beirando os 70. Reparando bem, acho que a letra dela se parece um pouco com a da minha avó.
E, enquanto vou pagando o livro, me vem à mente a hipótese mais óbvia, e a única que eu ainda não tinha à imaginado. Cleópatra Chagas não mora mais aqui. Está morta.É isso mesmo: afinal, sua assinatura é de 1982, mais de vinte anos já se foram, seus filhos não sabiam o que fazer com aquele livro, chegaram a pensar em enterrá-lo com ela, mas acabaram seguindo a sugestão da neta.

O autor critica que a obra de Mario Quintana esteja a venda num sebo por menos de dez reais, ou seja, a obra deveria ser mais valorizada.

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