segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A CARONA


O motorista do taxi estava nervoso. Achei melhor puxar conversa.
- Estou encrencado, amigo. Semana passada, dei carona a uma moça do bairro, agora minha mulher quer separar.
Fiquei intrigado. Ele me contou o início e o fim do filme, mas pressenti que ainda havia muito entre as duas pontas.
- Mas separar por uma simples carona? – perguntei.
- É que essa vizinha tem fama de safada. O pior é que eu não fiz nada com ela, só dei carona. A bandida foi lá em casa e contou pra minha mulher.
Ele parecia sincero. Talvez realmente não tivesse acontecido nada. Ou talvez ele estivesse tentando se convencer de que nada tivesse acontecido.
Nessa ora o celular dele tocou. Era a esposa, que ,pelo que ouvi, estava furibunda. Quando desligou enxugou uma lágrima, quis acreditar que ele estava arrependido. Dar carona é um ato curioso: pode ser um ato de ajuda ou pode envolver muito mais: proximidade, a um palmo da intimidade e favores, a um palmo da troca de favores. Oferecer carona já foi ceder à tentação.
Cheguei ao meu destino e paguei a corrida, desejei boa sorte e ele saiu devagar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário